A esposa do caminhoneiro Fábio Aguiar de Morais, de 36 anos, morto a tiros pelo policial militar Júlio César da Silva, de 44, já havia se queixado do PM na Corregedoria da corporação. Viviane Silva de Aguiar contou que procurou o órgão e registrou três boletins de ocorrência e cinco reclamações de ameaças do PM contra a vítima e um filho do casal. Um vídeo gravado por Viviane mostra o momento do assassinato.
A família do caminhoneiro morava no Bairro Santa Rita, onde ocorreu o crime, há dois anos, e diz que enfrentava problemas de convivência com o policial desde maio de 2015. A esposa da vítima diz que as imagens gravadas eram para usar como provas contra o policial, junto à Corregedoria da PM, mas não esperava que a discussão fosse terminar dessa forma.
“Em outras situações, ele apontou a arma e fez ameaças. A Corregedoria disse que era importante uma foto ou uma gravação, por isso comecei a filmar, para ter uma forma de provar as denúncias que já tinha feito. Eu me desesperei quando ouvi os tiros, ninguém esperava isso”, esclarece. Ela afirma ter procurado a Corregedoria por cinco vezes.
De acordo com Viviane Aguiar, o policial já tinha ameaçado de morte o filho do casal, de 14 anos, depois que o garoto estourou bombinha na rua. Ela conta ainda que já procurou a Justiça por várias vezes para tentar resolver as desavenças com o vizinho. “Eu fui ao Conselho Tutelar pedir uma medida protetiva para o meu filho, porque eu tinha medo que ele o matasse na rua”, afirma. A mulher diz que registrou três boletins de ocorrência e entrou com dois processos judiciais contra o sargento.
Segundo a filha do casal, a vítima aparece no vídeo com uma faca que era usada na instalação de uma câmera de segurança na casa da família. A discussão teria começado depois que o homem resolveu tirar satisfação com o sargento sobre a ameaça e agressões feitas ao filho dele. Nas imagens, quando o sargento atira, a vítima já estava desarmada.
Posicionamento da Polícia Militar
Por meio de nota, o comando da 8ª Região de Polícia Militar se posicionou acerca do ocorrido. Leia:
Sobre o fato
Ontem, domingo, 6 de março, por volta das 09h30, uma equipe policial deparou com um aglomerado de pessoas e momentos depois foi relatado que havia um baleado na rua Campos Sales, bairro Santa Rita. Chegando ao local, a equipe policial deparou com a vítima já caída ao solo aparentemente sem vida. De imediato o local foi isolado, sendo acionado o SAMU, além da perícia tão logo foi constatado o óbito. No local foi ouvida a esposa da vítima que relatou que presenciou o autor efetuar disparos de arma de fogo contra seu esposo.
Disse também que se tratava de um policial militar. Ao ser feito levantamentos, constatou-se que seria o PM SGT JULIO CESAR DA SILVA, lotado na cidade de Governador Valadares que estava de folga e em trajes civis que, apesar de morar por ali, não foi encontrado para esclarecer sobre o fato.Durante os levantamentos nenhuma testemunha e a esposa da vítima que presenciaram os fatos relataram sobre o que teria motivado o crime.
Sobre o vídeo
A Polícia Militar também se posiciona sobre o vídeo que está sendo divulgado, esclarecendo que a vítima estava com um facão e as mãos para trás, além de a todo momento parecer falar algo ao autor, provocando-o. Também sobre o vídeo, foi constatado que em dado momento o autor não aparece com a faca nas mãos, porém permanece com as mãos para trás, o que deixa a entender para o autor que ainda poderia estar com o facão. Outra questão a se falar é com relação as tentativas feitas pelo autor de que a vítima se desarmasse e fosse para sua casa, porém a vítima permanece por ali. Segundo consta no Centro de Comunicações Operacionais da Oitava Região da Polícia Militar (COPOM), o 190 foi acionado, sendo empenhada equipe policial para o local dos fatos.
Antecedentes
Há registro de REDS que envolvem o autor e os filhos da vítima os quais já haviam sido encaminhados à Polícia Civil para apurações por se tratar de questões de desentendimentos entre vizinhos. Com relação às reclamações na Corregedoria da Polícia Militar, há registro de apurações que comprovaram que os fatos se tratavam de conflitos entre vizinhos, mas não há nada sobre a conduta do autor que fosse contrária à disciplina e ética policiais militares.
O Policial Militar
A quase trinta anos na Corporação, o Sgt Júlio é profissional exemplar, conforme sua ficha pessoal, possuindo em toda sua carreira conduta ilibada. Sobre o fato em questão a investigação ficará a cargo da justiça comum. Segundo informações de terceiros, o autor deverá se apresentar à Polícia Civil para prestar esclarecimentos, o que ainda não tem data prevista. Assessoria de Comunicação Organizacional da 8ª RPM
Investigação da Polícia Civil
A Polícia Civil informou que um inquérito já foi instaurado e que foi solicitada a prisão preventiva do militar. O delegado Jean Vitor Santi é o responsável pelas investigações.
Temendo retaliações de vizinhos, a família do sargento se mudou ontem mesmo do Bairro Santa Rita. O vídeo que registrou cenas do crime já está com a Polícia Civil e será anexado ao inquérito.