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segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Roubo de carga cresce mais de 100% na Bahia

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    Ferrari Modena

    Empresas investem em equipamentos para rastrear cargas.


    Reflexo do aumento da criminalidade no estado, o roubo de cargas teve crescimento de 105% em seis anos na Bahia e tem obrigado empresas a destinar até mais de 5% do orçamento anual com segurança. O ritmo segue crescente desde 2011, quando foram registrados 215 casos, chegando a mais que o dobro em 2016, com 441 roubos. Os dados de 2017 ainda não foram concluídos, informou a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA).

    Como consequência desses crimes, cresceu também o prejuízo das empresas baianas, de mais de R$ 13,4 milhões em 2011 para R$ 27,6 milhões em 2016 (aumento de 105%), aponta uma pesquisa nacional da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), divulgada ano passado.
    Na pesquisa, a Bahia, com 1.998 casos entre 2011 e 2016, é o quinto estado onde mais ocorre roubo de cargas no país. Lidera a lista São Paulo (com 49.212 roubos no mesmo período), seguido de Rio de Janeiro (33.240), Minas Gerais (3.987) e Goiás (2.010).

    Segundo autoridades policiais, o roubo de cargas na Bahia acorre nas rodovias estaduais, federais e ainda dentro das cidades, e todos os casos (inclusive os que ocorrem nas rodovias) são registrados na Polícia Civil.

    O delegado titular da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Cargas em Rodovias (Decarga), Gustavo Coutinho, informou que no estado a rodovia mais visada pelos criminosos é a BR-116 Sul, que vai de Feira de Santana à divisa com Minas Gerais. “As cargas mais visadas são as perecíveis, que podem ser vendidas mais rápido, geralmente elas são repassadas a mercadinhos, os principais receptadores. Outras cargas, como eletrônicos, são vendidas em outros estados”, informou Coutinho.

    O delegado da Decarga, que fica centralizada em Feira de Santana, onde está o maior entroncamento de rodovias do Norte e Nordeste, com as BRs 101, 116 e 324, disse que em 60% dos casos de roubo de carga registrados na Bahia há participação dos motoristas de caminhões. “Eles simulam o roubo ou o tombamento. No caso do tombamento, chegam a tirar antes até 80% da carga e depois registram na polícia a queixa de saque como se tivesse com a carga completa”, afirma o policial.

    No dia 5 deste mês, Coutinho apreendeu uma carga de queijos avaliada em cerca de R$ 240 mil reais. Ao todo 17 toneladas do produto foram devolvidas à empresa seguradora. O caminhão saiu de Goiás com destino a um atacadão em Salvador, tendo sido atacado por 12 pessoas às margens da BR-242, em Itaberaba. O grupo transferiu o motorista para um veículo pequeno e levou o caminhão na direção contrária, mas foi rastreado pela seguradora.

    “Fomos acionados e iniciamos uma operação para recuperar os bens da empresa de laticínios Centro-Oeste”, afirmou o policial. Para tentar despistar o trabalho da polícia, os bandidos quebraram o rastreador.

    A carga foi encontrada, na BR-116, próximo ao município de Nova Itarana, mas os criminosos conseguiram escapar ao cerco. Informações sobre eles podem ser repassadas à polícia pelo Disque Denúncia 3235-000 (capital e Região Metropolitana de Salvador) e 181 (interior do estado).

    Ferrari Modena

    A BR-242 está entre as mais perigosas estradas federais para esse tipo de crime, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), que coloca na lista ainda as BRs 324, 101 e 116. Relatório feito pela PRF a partir das ocorrências nessas rodovias e enviado ao Ministério Público da Bahia (MP-BA), reforçado com investigações posteriores do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas e Investigações Criminais (Gaeco), da SSP-BA, resultaram numa operação que prendeu 21 pessoas em junho do ano passado.

    Os criminosos (entre mandantes, receptadores, facilitadores e executores dos crimes) foram localizados em Salvador, Lauro de Freitas, Alagoinhas, Vitória da Conquista, Feira de Santana, Valinhos (SP) e nas mineiras Uberlândia e Uberaba. Entre os itens roubados pelas quadrilhas estavam cerveja, material de limpeza, papel A4, alimentos, medicamentos, entre outras mercadorias de fácil negociação. A estimativa é que os envolvidos tenham movimentado cerca de R$ 4 milhões em produtos roubados.

    As equipes realizaram ainda buscas em estabelecimentos comerciais que faziam a receptação dos objetos roubados e em galpões onde as cargas eram armazenadas e distribuídas posteriormente. Em três dos seis mercadinhos fiscalizados, foram encontrados produtos roubados, e nos outros três havia grande quantia em dinheiro, que foi apreendida. Já em dois dos seis galpões visitados, era armazenado grande volume de produtos roubados. Na operação foram apreendidos ainda um automóvel e um caminhão.

    “Nós, empresários que atuamos dentro da lei, pagamos vários impostos, temos de concorrer com empresas de fora que recebem subsídios de seus estados e praticam uma concorrência forte dentro da Bahia. E ainda temos de encarar essa realidade do roubo de carga, que prejudica muito o nosso trabalho”, comentou o presidente da Associação dos Distribuidores e Atacadistas da Bahia (Asdab), Antônio Alves Cabral Filho.

    O problema, informa o presidente da entidade que reúne mais de 600 associados no Estado, tem feito com que empresas gastem mais de 5% do orçamento anual com seguranças,

    As empresas usam equipamentos pequenos e discretos, de fácil ocultação, para rastrear e monitorar cargas. As iscas podem ser acondicionadas dentro de caixas, bagagens e embalagens em geral.

    “Além disso, buscamos não rodar depois das 21h e sempre que possível em comboio”, disse Cabral Filho, segundo o qual outro problema das empresas é para fechar contrato com as seguradoras: “Com esses casos de roubos, elas estão ficando cada vez mais exigentes, cobrando mais caro, e o empresário tendo prejuízo”.

    Crime atualizado

    Ana Cardoso, gerente de vendas de uma empresa que comercializa equipamentos de segurança para prevenção a roubo de cargas, diz que “criminosos também tem utilizado novos métodos para burlar os sistemas de segurança, o que exige constante atualização nesse ramo.”

    “Novas tecnologias estão sendo implementadas para aumentar o índice de recuperação de veículos e cargas, hoje superior a 90% aqui na Pósitron, e vão desde melhorias nos equipamentos, até atuadores em casos de sinistro, com redundância de tecnologias em rádio frequência, inteligência embarcada nos dispositivos, novas versões de firmware, placas e circuitos eletrônicos”, declarou.

    A PRF informou que realiza na Bahia fiscalizações voltadas ao roubo de cargas, com patrulhamento ostensivo em dias, horários e regiões onde mais ocorre tal delito e operações com o fim específico de coibir esse crime. “O intuito desse trabalho é alocar servidores especializados no combate ao crime nos pontos vulneráveis”, diz um comunicado oficial.

    A quantidade de pontos vulneráveis, informa a nota, é a maior dificuldade da PRF no combate a esses crimes: “São inúmeros postos de combustíveis em que o crime pode acontecer, e ainda milhares de quilômetros de rodovia. Além disso, a quantidade de rotas de fuga é expressiva.”

    Para tentar minimizar os riscos, a PRF sugere que os motoristas evitem parar em postos sem iluminação, desconhecidos ou que não ofereçam condições mínimas de segurança. Em caso de atitude suspeita, vale entrar em contato com a PRF por meio do número 191. Automóveis que transitam atrás de veículos de carga sem ultrapassá-los, mesmo quando a sinalização e o fluxo permitem, são um indicativo de comportamento suspeito.


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